A vida pode ser extremamente imprevisível. Infelizmente, não existe um botão de pausa para a menstruação quando tudo sai do controle, nem mesmo diante de um desastre real. Este artigo traz ideias para lidar com sua menstruação, mesmo em situações de emergência.
De apagões, canos estourados e atrasos em viagens até enchentes, terremotos e situações muito piores — se sua rotina é interrompida, provavelmente será necessário adaptar a forma como você lida com seu ciclo menstrual.
Pensar em desastres pode parecer desesperador, mas há uma diferença entre ser "preparadora do apocalipse" e apenas estar preparada para o inesperado. Saber como cuidar da menstruação em situações atípicas e ter suprimentos extras em casa são precauções racionais e práticas. Mesmo que nunca precise enfrentar uma emergência grave, as ideias aqui provavelmente vão ser úteis algum dia.
Como é estar diante de uma emergência real?
Muitas de nós tendemos a romantizar a adrenalina ou a catastrofizar a destruição de ser vencida por uma situação fora de controle. A menstruação geralmente não aparece nessas cenas fictícias. Se você está fugindo de um perigo iminente, sangrar pela roupa realmente não importa, mas muitos desastres envolvem longos períodos de espera e/ou deslocamentos inesperados sem privacidade para lidar com os aspectos menos dignos de ser humana.
Um equívoco comum é que, em grandes catástrofes, as mulheres simplesmente deixam de menstruar. Claro, pode acontecer em resposta a estresse extremo duradouro, desnutrição ou doença — o corpo pode atrasar ou suprimir a ovulação em certas condições — mas você não vai pular a menstruação porque acabou a luz ou houve um terremoto. Por que não separar uns minutos para se planejar e se preparar para viver a menstruação numa emergência?
Se você tem rotinas bem definidas para lidar com sua menstruação e não sofre muito com sintomas de TPM, talvez mal perceba o ciclo no agito e conforto da vida atual. Mas tudo isso muda quando uma emergência bagunça sua rotina.
Quem vive com conforto muitas vezes nem percebe que um dos maiores problemas enfrentados por mulheres deslocadas e em situação de rua é a falta de acesso a absorventes e outros produtos menstruais. Mulheres e meninas de baixa renda no mundo todo vivem esse problema todo santo dia. “Pobreza menstrual” é difícil e desumanizadora, além de aumentar o risco de doenças e discriminação.
Se você não tiver como conter o sangue menstrual, ele vai manchar suas roupas, se espalhar pelos arredores, chamar atenção indesejada e, no fim, aumentar o odor corporal.
Em momentos já estressantes, ninguém precisa de problemas extras que aumentem o risco de infecção ou provoquem discriminação desnecessária.
Todas as pessoas que menstruam — inclusive a menina que recebe a primeira menstruação em meio a uma crise — podem se beneficiar de orientação para esse momento. Felizmente, existem passos simples que podem ser tomados para se preparar melhor para lidar com a menstruação, mesmo em situações inusitadas.
Se houver uma panela disponível só para esse fim, vale como precaução extra.
Não. O segredo é conhecer alternativas e manter sempre alguns itens extras guardados.
O coletor menstrual é uma ótima invenção! É uma maneira prática e sustentável de lidar com o sangue menstrual a longo prazo. Há pouco desperdício envolvido, e como você pode usar o coletor até 12 horas antes de esvaziar, a menstruação será quase insignificante mesmo em emergências. Caso você tenha fluxo intenso, talvez precise esvaziá-lo antes, mas ainda assim não será preciso carregar absorventes descartáveis por todo lado.
Desde que exista a possibilidade de ferver o coletor antes e depois de cada ciclo para mantê-lo estéril e seguro para uso, essa é uma ótima possibilidade. Porém, se não tiver acesso à água, a esterilização se torna um desafio e, se não puder lavar as mãos antes de esvaziar o coletor (ou trocar absorvente interno), há risco de infecção vaginal. Qualquer bactéria ou fungo presentes nas mãos — e elas estão sempre lá, independente da limpeza — podem proliferar no sangue menstrual.
Se você não está acostumada a usar o coletor, não é recomendado começar no meio de uma crise se houver outras opções. Embora o uso se torne fácil com o tempo, aprender a colocar, retirar, limpar e esterilizar o coletor exige adaptação. E como cada corpo tem forma e tamanho específicos, talvez precise testar vários coletores até achar um que fique confortável.
Mesmo se você já usa coletor menstrual, absorventes (também chamados de pensos higiênicos) podem ser a melhor opção em situações inesperadas, principalmente quando não há acesso à água.
E, se você normalmente utiliza absorventes ou tampões, pode valer a pena aprender o básico sobre o coletor e deixar um guardado como backup para emergências.
Um conjunto de calcinhas absorventes provavelmente é a solução mais confortável e de baixo desperdício para fluxos leves e moderados, se houver como lavá-las. Caso o seu fluxo seja intenso, combine calcinhas absorventes com um absorvente reutilizável ou coletor menstrual para reforçar a proteção contra vazamentos.
Mesmo quem não usa calcinhas absorventes costuma achar útil separar um conjunto de roupas íntimas específico para a menstruação, pois isso facilita manter o restante limpo. Terminada a menstruação, lave essas peças com água fria e deixe-as prontas para o mês seguinte. (Lavar roupas ensanguentadas em água quente fixa a mancha e a torna quase impossível de remover depois.)
Diante da infinidade de produtos disponíveis hoje — de absorventes e tampões a coletores e injeções hormonais — a gente até esquece que, décadas atrás, quase nada disso existia e que milhões de mulheres ainda não têm acesso.
Ao contribuir para doações a refugiadas, pessoas em situação de rua, crianças em abrigos e outros grupos vulneráveis, inclua absorventes e tampões.
Sem acesso a produtos modernos, a improvisação é a única saída. Se isso acontecer com você, resgate o espírito adolescente que teve a menstruação inesperada na escola e use a criatividade!
Vale usar qualquer material absorvente, desde que esteja limpo:
Para descobrir alternativas antigas, pergunte à sua mãe ou avó o que elas usavam no passado. Talvez tenham absorventes de tecido ou cintos menstruais antigos guardados por aí.
Você pode costurar seus próprios absorventes reutilizáveis! A camada externa — aquela em contato com a pele — deve ser de tecido natural, como algodão, ou flanela de algodão. As camadas internas devem ser de fleece, flanela ou tricoline grossa para melhor absorção. Inclua algum jeito de prender o absorvente na calcinha, como abas que envolvem e fecham com botão, snap ou colchete.
Se estiver ao ar livre, inspire-se nas mulheres medievais e use musgo. Sphagnum cymbifolium, ou esfagno, existe no hemisfério norte e em partes do hemisfério sul, formando tapetes densos em brejos, pântanos e à beira de lagos. É naturalmente absorvente e foi muito usado no passado para estancar ferimentos ou conter o fluxo menstrual. Não use folhas quaisquer: elas não absorvem bem, podem ter fungos ou bactérias e até causar alergia.
Se nada estiver disponível, praticar o livre sangramento não é o fim do mundo. Vista diversas camadas embaixo e amarre algo na cintura para reforço durante o dia; à noite, use peças laváveis ou descartáveis para absorver vazamentos ao dormir. Lave roupas e calcinhas manchadas com água fria e limpa, e só use depois de totalmente secas.
Menstruar é muito mais do que apenas o sangue visível.
Se você usa hormônios para controlar o ciclo, mantenha a receita em dia e tente guardar uma ou duas caixas extras (se for permitido) para emergências rápidas — assim, pode manter o cronograma mesmo deslocada por um desastre como ciclone ou tornado. Se a crise durar muito, provavelmente perderá o acesso ao medicamento por um tempo; pergunte à ginecologista quais alternativas seguir nesse caso.
Se você usa medicamentos para TPM ou outros sintomas do ciclo como dor de cabeça, cólicas ou constipação, mantenha quantidade razoável em casa. O ideal varia de acordo com a frequência de uso e o prazo de validade. Muitos remédios comuns duram anos, então uma embalagem extra basta. (Evite acumular estoques e acabar com medicamentos vencidos e inúteis fora de alcance. Seja realista.)
Nunca use remédio vencido. No máximo será menos eficaz, mas pode causar riscos sérios à saúde.
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